[Gerador #002] - O que te emociona?
- rafaelbeckermiranda
- 9 de fev. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de fev. de 2022
GERADOR DE IMPROBABILIDADE INFINITA
originalmente publicado em 2016 no wattpad

Todos nós já passamos por algum tipo de emoção forte. Alegria, tristeza, ciúmes, enfim... e eu penso que os sentimentos são como machucados na pele, sinta muito alguma coisa e com o tempo você fica calejado ou simplesmente a pele perde a sensibilidade. A primeira briga com um amigo provoca mais tristeza do que a décima briga, se elas forem da mesma intensidade. É claro que amadurecer representa um papel importante em domar os sentimentos e torna-los mais amenos, ou seria o amadurecimento apenas o processo de calejar a pele? Bem, isso tudo não tem (quase) nada a ver com o que eu quero dizer. É claro que uma vitória pessoal, como arranjar um emprego ou conquistar a pessoa amada provoca sentimentos de alegria e felicidade, mas e quanto aos sentimentos provocados pelo entretenimento? Eu ainda me lembro da primeira vez que assisti Lost. A primeira temporada passava na rede globo e como os episódios saiam relativamente tarde da noite - eu acordava todo dia as seis e pouco para pegar trem para estudar em outra cidade - eu gravava os episódios em um velho VHS. No segundo dia teve um corte de energia durante a noite e o VHS não gravou o segundo episódio (problemas de uma era que não voltam mais). OK, de repente eu estava viciado naquele seriado como se fosse uma espécie de droga. A segunda temporada saiu em DVD e eu participei de uma ardilosa batalha para conseguir alugar os DVDs na locadora, pois aquilo era um verdadeiro salve-se quem puder, e eu passava todos os dias após a aula para ver se conseguia alugar algum deles. Na terceira temporada eu descobri a magia do MegaUpload, e comecei a baixar os episódios durante a noite, então eu acordava antes de ir para a aula, cerca de cinco e pouco da manhã, para assistir os episódios ainda sem legenda. Depois, quando voltava da aula eu assistia os episódios legendados com o meu pai. Ver Lost naquela época era algo mágico, os meus amigos, professores, parentes, todos discutiam infinitas teorias malucas de como o seriado acabaria, como se todos os fãs estivessem experimentando uma espécie de sinergia louca. Uma vez fui com dois amigos em uma reunião de fãs na Livraria Cultura e me lembro de pensar em como aquilo era importante para aquelas pessoas! Gente que assistia ao mesmo episódio oito, novo, dez vezes, e que organizava esses encontros. Como um simples seriado conseguia cativar tantas pessoas e fazer com que elas simplesmente não calassem a boca ou mudassem de assunto? Infelizmente, se você não acompanhou Lost naquela época, você provavelmente não saberá do que eu estou falando, pois, acredite em mim, nunca outro seriado conseguiu repetir esse feito com a mesma magnitude. A segunda emoção que me foi proporcionada pelo entretenimento ocorreu nos mesmos anos em que assistia Lost. Eu comecei a ler a saga da Torre Negra, e quando cheguei no último volume, em um dos últimos capítulos, havia uma cena em que Roland estava caminhando por entre um campo de rosas e as elas cantavam. E eu juro que enquanto eu lia a cena eu ouvi as rosas cantarem em meus ouvidos, como se tudo aquilo fosse real e estivesse a apenas um universo de distância de mim. Aquilo foi mágico. Ok, foi um pouco insano também, eu admito, mas o fato é que aconteceu e eu jamais me esquecerei disso. Mas a emoção mais forte que o entretenimento me proporcionou foi assistindo à série Sopranos. Era uma bela tarde e eu resolvi ver um episódio da última temporada. Então vi mais um, e outro, e a tarde se tornou noite e a noite madrugada. Eram quase uma da manhã quando eu assisti ao episódio final - e você pode imaginar a minha frustação quando não entendi lhufas. E uma da manhã virou duas, enquanto eu tentava encaixar as peças. O fato é que na cena final toca a música Don't Stop Believing do Journey, e depois de Sopranos eu simplesmente não consigo ouvir essa música sem que meus olhos se encham de lágrimas e uma estranha eletricidade percorra o meu corpo, como que em um transe. Como se aquela cena com personagens fictícios fizesse parte da minha vida, como se fossem velhos companheiros que eu não veria nunca mais. As vezes a ficção pode emocionar mais do que a realidade.
E você, o que te emociona?
PS1: Eu sei que o final de Lost foi uma verdadeira decepção, mas o final da vida é a morte e nada é mais decepcionante do que isso, certo? As vezes as pessoas só olham para o final da estrada e não apreciam a paisagem.
PS2: Nos tempos de VHS e Orkut eu participava de uma comunidade sobre teorias de Lost, e uma pessoa veio com a ideia de que no final todos estariam mortos e enterrados e que apenas muitos anos depois alguém acharia a ilha. No que um segundo disse: "se todos morreram, quem enterrou ele?" É, os detalhes são a raiz dos problemas...

![[Gerador #001] - 50 tons de preto e branco](https://static.wixstatic.com/media/0fc6cb_a0c77eac6e644413ade11bcdc570d81e~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_550,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/0fc6cb_a0c77eac6e644413ade11bcdc570d81e~mv2.jpg)
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